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Liderar é sua tarefa, não do RH

Algumas pessoas acham que liderar é uma competência soft. Que é algo desejável, não essencial. Não é verdade. Liderança até pode ter componentes soft, mas no fundo é a competência mais hard de todas. Liderança é o que faz a estratégia ser executada. Liderança é o que produz resultado. E no fim do dia, a única coisa que importa é o resultado, em todas as suas dimensões.

Como o líder faz isto? Esta é uma boa pergunta!

Antes de responder, é importante definir o que é resultado do ponto de vista da estratégia.

Resultado, visto de cima, é medido pelo sucesso consistente na execução da estratégia. Ou seja, a liderança tem sucesso quando a organização executa com sucesso a estratégia contratada, entregando os resultados combinados de curto prazo ao mesmo tempo em que desenvolve, de forma sustentável (respeitando a cultura), as competências que serão necessárias para sustentar a estratégia no próximo estágio.

OU SEJA, UM BOM LÍDER GARANTE A CAPACIDADE DA EMPRESA ENTREGAR OS RESULTADOS HOJE, AMANHÃ E DEPOIS DE AMANHÃ.

Ele não tem sorte e não tem azar. Ele não vende o futuro para entregar o presente. Nem o contrário. Nunca.

E como o líder faz isto? Sendo hard e soft ao mesmo tempo:

Liderando a execução da estratégia e batendo as metas hoje;
Enquanto lidera o desenvolvimento das competências que serão necessárias (para sustentar as vantagens competitivas) amanhã;
Respeitando (e desafiando) a cultura da organização;
Cuidando da saúde física e mental de seus liderados, enquanto dá a eles oportunidades para se expandir profissionalmente.

Alguns empreendedores se acham incapazes de liderar. Se veem como técnicos, inventores, vendedores, embaixadores ou qualquer outra coisa, mas não como líderes capazes de fazer, com a sua energia, a organização fazer o que tem que ser feito.
Isto pode ser uma barreira cognitiva, falta de fé em si mesmo, ou falta de apreciação pela gestão. Nestes casos, um bom mentor ou mesmo um bom coach pode ajudá-lo a checar se isto é estrutural ou apenas uma restrição autoimposta. Na maior parte das vezes, é apenas um problema de autoconfiança ou desconhecimento do que significa liderar.

NA MAIOR PARTE DAS VEZES, FALTA APENAS UM FÓSFORO PARA ACENDER O FOGO.

Mas, às vezes, pode ser verdade. Muitas vezes as competências simplesmente não estão lá. E será caro e demorado demais desenvolvê-las.

Este é o caso onde é necessário ter mais alguém — de preferência um sócio, como segunda opção um executivo contratado (embora esta opção seja na maior parte das vezes inviável para quem está no início do caminho). Esta segunda pessoa terá a responsabilidade de liderar o dia a dia, em simbiose com o empreendedor. Serão como um só, complementando-se em suas atividades.
Eu não estou falando de divisão de funções ainda. É claro que, à medida que a empresa for crescendo, mais executivos especialistas vão ter que ser formados ou contratados para poder gerir a organização. Não estou falando disso ainda. Estou falando da capacidade inata, ou não, de fazer a conexão entre a estratégia e a execução. Esta função existe desde o Dia 1. Alguém sempre tem que ser responsável por ela. Sem isso, a empresa simplesmente não funciona. Não estou falando também, de jeito nenhum, em “contratar um RH”.

Embora provavelmente, em algum momento, será necessário contratar ou desenvolver alguém para assumir a área responsável por Gente & Gestão (ou qualquer outro nome que esta função tenha sido batizada), isto é totalmente diferente. Ter uma pessoa que garanta a qualidade dos processos de gestão é uma coisa — tem a ver com como fazemos as coisas. Mas isto jamais substitui a função do líder de conectar as pessoas com a estratégia que é o porquê fazemos as coisas.

LIDERAR NÃO É DELEGÁVEL, TERCEIRIZÁVEL OU ALIENÁVEL. UM BOM RH PODE ATÉ AJUDAR, MAS NUNCA SUBSTITUIR.

Por outro lado, é claro que esta função não vai ficar sempre restrita a uma pessoa. À medida que a empresa crescer, outros líderes vão ajudar a fazer a conexão acontecer. E isso é ótimo! Um dos aspectos de maior solidez que uma empresa pode ter é um conjunto poderoso de líderes que garanta que a organização inteira funcione de forma alinhada, sincrônica e engajada. Isto é tão importante que é critério-chave de avaliação em processos de Valuation.

Mas, por maior e mais madura que a empresa seja, o líder máximo nunca perde a função. Isto não muda com o tempo. Liderar sempre vai consumir tempo. Aliás, vai ficar mais complexo e mais desafiador ao longo do caminho. Todo empreendedor vai sempre ter que equilibrar atentamente o tempo que gasta com a função de liderança e o tempo que ele gasta com outras atividades.
Provavelmente, o ponto de equilíbrio estará entre 70/30 e 30/70. Um empreendedor que passe 100% do seu tempo lidando diretamente com problemas não está cuidando de sua equipe e um empreendedor que passe 100% do seu tempo lidando com sua equipe não está mantendo o distanciamento necessário para o raciocínio estratégico e as decisões difíceis que cabem apenas a ele.

Na prática isso significa muita comunicação — um a um, em reuniões, por e-mail, WhatsApp, Slack, Trello. Vale tudo! Em alguns momentos, isto será mais estruturado, como, por exemplo, nas clássicas reuniões periódicas de equipe. Outras vezes será bem informal, em pé no cafezinho ou via duas linhas de chat.

O IMPORTANTE É QUE SEJA UMA CONVERSA QUE ESTEJA SEMPRE EM ANDAMENTO, SEM GRANDES INTERRUPÇÕES, MANTENDO O CONTATO COM A REALIDADE E O FOCO NO TRABALHO E NOS RESULTADOS DO LIDERADO.

E por mais digital que seja a cultura da empresa, de vez em quando tem que rolar um olho no olho. Tem coisas que só o contato pessoal permite identificar.

Última dica: cuidado para não virar Discussão de Relação. Por maior que seja a intimidade, mantenha alguma distância. Não é casamento!
Mesmo que o desafio pareça grande, fique tranquilo.

NINGUÉM APRENDE A LIDERAR DA NOITE PARA O DIA. É UMA COMPETÊNCIA COMPLEXA, DURA DE DESENVOLVER.

Demora. É um processo de auto-amadurecimento que todos os grandes líderes passam. Liderar é uma parte essencial do papel do empreendedor. Lidar com as pessoas é necessário e não dá delegar ou fingir que elas não estão lá ou que elas não precisam de liderança. Elas precisam. E esta função é sua.

Daniel Castello

Artigo publicado originalmente em Endeavor

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