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Como desenvolver a habilidade de resolver problemas complexos?

Um dos melhores filmes de 2015 foi ‘Perdido em Marte’ (The Martian), estrelado por Matt Damon e dirigido por Ridley Scott. O filme, baseado no excelente livro homônimo de Andy Weir, conta a história de um astronauta que é esquecido em Marte por ser erroneamente considerado morto. Acompanhamos a sua luta para sobreviver no planeta vermelho, enquanto a NASA, depois de descobrir que ele está vivo, trabalha para trazê-lo de volta à Terra.

O personagem de Damon,  enfrenta todo tipo de problema que aparece: falta de água, de alimento, incapacidade de se comunicar com o planeta Terra. Com atitude e bom humor, o astronauta vai resolvendo problemas extremamente complexos, um a um, contra o relógio, até conseguir atingir seu objetivo: voltar para casa.

capacidade de solucionar problemas complexos é a habilidade mais importante que precisamos desenvolver para sermos bem sucedidos na Quarta Revolução Industrial, de acordo com o Fórum Econômico Mundial. Até 2020, essa revolução transformará a maneira como vivemos e trabalhamos, com avanços em inteligência artificial, robótica, machine learning, carros autônomos e biotecnologia. De acordo com o relatório ‘Jobs lost, jobs gained da consultoria McKinsey, essas transformações tecnológicas têm o potencial de fazer desaparecer 15,7 milhões de empregos até 2030 apenas no Brasil, e criar milhões de outros que hoje não existem.

Essa capacidade é um pacote multidimensional de competências com alto nível de abstração, assim como a inteligência humana. É a coleção de processos e ações fundamentais para resolver problemas mal definidos, o que não pode ser alcançado com atividades triviais de rotina. Combinações criativas entre conhecimento e um amplo conjunto de estratégias são necessárias — e as soluções são, geralmente, imperfeitas. Esse processo combina aspectos cognitivos, emocionais e motivacionais em situações nas quais há muita coisa em jogo. O mundo atualmente enfrenta diversos problemas extremamente complexos, como a mudança climática, o crescimento populacional acelerado, a ameaça de guerras, o mal uso e distribuição de recursos naturais. Além desses grandes exemplos, muitos outros fazem parte do nosso dia a dia: encontrar a pessoa certa para dividir a vida e escolher uma carreira que não só nos traga dinheiro, mas também nos deixe felizes, são apenas dois tipos de problemas complexos que enfrentamos. Mas enfim, como desenvolver essa habilidade tão importante e preparar nossas carreiras para a revolução tecnológica à nossa frente?

Uma excelente forma de desenvolvermos a capacidade de solucionar problemas complexos é nos tornarmos lifelong learners, cultivando o hábito de estudar continuamente ao longo de nossas vidas. Fazer um MBA, pós-graduação, mestrado, doutorado ou um curso de seis meses e equilibrar as demandas de estudo com nossas carreiras, famílias e tudo que fazemos em nossa rotina diária é um problema bem complexo. Estudar não só nos capacita tecnicamente, mas também nos ajuda a desenvolver essa habilidade tão importante.

Profissionais capazes de estudar continuamente, enquanto trabalham, demonstram uma série de competências dentro do pacote ‘capacidade de solucionar problemas complexos’. Para equilibrarem as demandas profissionais com a dedicação à família e os estudos, esses profissionais desenvolvem disciplina e inteligência emocional, além da capacidade de priorizar, fazer escolhas e conciliar objetivos conflitantes. Ao lidar com o custo de cursos dessas especializações, muitas vezes bem altos, esses profissionais buscam formas criativas de pagar seus estudos — vão ao encontro de bolsas, conseguem ajuda da empresa em que trabalham ou optam por projetos e consultorias pontuais em paralelo à carreira. E, ao longo dessa jornada, esses profissionais desenvolvem growth mindset (mentalidade de crescimento), resiliência e demonstram comprometimento com objetivos de longo prazo. Não por acaso, aqueles capazes de estudar continuamente ao longo de suas carreiras são os mais requisitados no mercado de trabalho.

Se não tomarmos a iniciativa em nossas carreiras e começarmos a agir agora mesmo em prol do desenvolvimento de nossas habilidades, em especial a capacidade de resolver problemas complexos, corremos o mesmo risco do herói do filme interpretado por Matt Damon: de ficarmos perdidos para sempre num lugar sem saída e sem tempo hábil de promover as mudanças necessárias para chegarmos onde queremos.

*Carlos Souza é diretor-geral da Udacity para América Latina.
Publicado originalmente em Época Negócios

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